quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sol de Primavera

Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão onde a gente plantou juntos outra vez
Já sonhamos juntos semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz no que falta sonhar
Já choramos muito, muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer
Sol de primavera abre as janelas do meu peito
a lição sabemos de cor
só nos resta aprender...

[Beto Guedes]




terça-feira, 30 de agosto de 2011

ILUSÕES

Não tem jeito, a gente se ilude, a gente se fode. Toda vez que algo acontece, um pequeno gesto, uma ligação, uma mensagem de boa noite no celular, um gosto parecido. Já era! Estamos iludidos. Às vezes acho que é a ilusão que nos move... Nada de amor! O que nos move é a ilusão do amor. Ninguém sai à procura depois que o amor já foi conquistado, a gente sai à procura de algo é quando tá iludido, quando esperamos aquele cara ligar no dia seguinte. É pela ilusão que a gente liga para aquela amiga contando TU-DO, que na verdade não é nada (ainda bem que nossas amigas nos entendem e apoiam). Caio Fernando Abreu já disse: "Cuidado com as ilusões, mocinha, profundas e enganosas feito o mar".
A gente fala: eu não me iludirei mais, e aí vem aquele filho da mãe lindo e charmoso e pronto. Ferra seus planos, te tira do estado zen e te deixa de cabelo em pé e estômago revirado com a tal das borboletas fazendo festa. Aí você percebe que está ficando maluca com tudo isso e fala para si mesma: DESSA VEZ NÃO. Mas não adianta, deve ter alguma parte em nós, lá onde não alcançamos, que fala: DESSA VEZ SIM, QUEM MANDA AQUI SOU EU. E aí pronto. Só te resta ficar feliz por besteiras, cantar Cazuza, Chico, Maria Gadú e Copeland enquanto toma banho."Que coincidência é o amor (...) Pra que usar de tanta educação pra destilar terceiras intenções...".
Gente, ilusão é coisa séria, quando você vê já ta achando que é paixão, que é amor, que vão casar e ter 10 filhos (você que nunca quis nenhum). Iludida ou não, acredito que temos que buscar coisa melhor para nos mover. Eu não tenho nenhum conselho pronto para não se iludir, mesmo porque tenho pavor a texto de auto-ajuda. Só resolvi parar e escrever um pouco sobre a ilusão, que nos engana, nos cega e ainda ri da nossa cara enquanto estamos ligando para amiga para contar sobre A MÚSICA QUE ELE TE DEDICOU (que na verdade faz parte da trilha sonora do casamento da irmã dele e ele só queria saber se você gostava, se não achava muito heavy metal para ser tocada quando a noiva sair da igreja)... Assim, algo que um amigo ou mesmo um colega faria, ele só queria uma opinião, sem segundas intenções. O que eles não sabem é que essas ‘pseudo-segundas intenções’ são capazes de nos deixar cheias de primeiras ilusões. Ilusões trazem alegria momentânea, e deve ser por isso que as buscamos nas propagandas, nos livros, na poesia pintada no muro, na caixa de leite, veja, um sinal: o homem que trabalha vendendo sanduiches no caminho que faço para o trabalho ta comendo um sanduíche de peito de peru, você crê nisso amiga? É o sanduíche favorito dele.

[Noemyr Gonçalves]

sábado, 27 de agosto de 2011

Bijuteria

Quando a noite cai
É que eu sinto a falta que você me faz
Saudade que não passa e nem me deixa em paz
A sombra de um amor que já brilhou demais.
Você foi pra mim
A coisa mais bonita que me aconteceu
Não pode imaginar os sonhos que me deu
E quanta insegurança que deixou o adeus.
Amei você
Sem truques, sem maldades, fiz o meu papel
Eu quis lhe oferecer o que ninguém me deu
Você não acredita, mas eu fui fiel
Amei você
Mas hoje posso ver que foi melhor assim
Preciso te esquecer pra me lembrar de mim
A vida continua
E no brilho de uma pedra falsa
Dei amor a quem não merecia
Eu pensei que era uma jóia rara, era bijuteria
Das mentiras das palavras doces
Vi calor no teu olhar tão frio
Na beleza do teu rosto esconde um coração vazio.
[Bruno e Marrone]

COSTUMES

Eu pensei
Que pudesse esquecer
Certos velhos costumes
Eu pensei
Que já nem me lembrasse
De coisas passadas
Eu pensei
Que pudesse enganar
A mim mesmo dizendo
Que essas coisas da vida em comum
Não ficavam marcadas
Não pensei
Que me fizessem falta
Umas poucas palavras
Dessas coisas simples
Que dizemos antes de dormir
De manhã
O bom dia na cama
A conversa informal
O beijo depois o café
O cigarro e o jornal
Os costumes me falam de coisas
De fatos antigos
Não me esqueço das tardes alegres
Com nossos amigos
Um final de programa
Fim de madrugada
O aconchego na cama
A luz apagada
Essas coisas
Só mesmo com o tempo
Se pode esquecer
E então eu me vejo sozinha como estou agora
E respiro toda a liberdade
Que alguém pode ter
De repente ser livre
Até me assusta
Me aceitar sem você
Certas vezes me custa
Como posso esquecer dos costumes
Se nem mesmo esqueci de você

[Roberto Carlos]

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Fim de Inverno

"Hoje é dia de esperar que o verde deste quase fim de inverno aqueça os parques gelados, as ruas vazias, as mentes exaustas de bad trips.
Hoje é dia de não tentar compreender absolutamente nada, não lançar âncoras para o futuro. Estamos encalhados sobre estas malas e tapetes com nossos vinte anos de amor desperdiçado..."

(Caio Fernando Abreu)



Por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia."

[Clarice Lispector]

domingo, 21 de agosto de 2011

Canteiros

Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade
Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento
Pode ser até manhã
Sendo claro, feito o dia
Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria

Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza
E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza ...
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Pois se não chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida...

[Fagner]

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Mais uma vez


Ainda procuro um jeito
De ter o seu nome
Nas minhas lembranças
Eu quero, tirar do meu peito
Essa dor que mata
A minha esperança
 Eu preciso ver o seu olhar
Brilhar pra mim
Não aguento mais
Essa dor sem fim
O meu sonho é ver você voltar
Volta de vez
Só pra reparar
O que a solidão me fez
Ah! fica comigo
Eu te preciso
Mais uma vez
Ah! fica comigo
Amor tão lindo
Faz outra vez

[Exaltasamba]

P.S.: hoje me peguei cantando essa musiquinha linda! desse grupo que amo!! que apesar de ser triste me traz muitas lembranças de um tempo bom!

domingo, 7 de agosto de 2011

Silêncio

Disse pra mim. Nenhum pio. Não vou falar nada. Já que sou tão imprópria, inadequada, boba. Já que nunca basto e se tento me excedo. Já que não sei o que deveria ou exagero em querer saber o que não devo. Nunca entendo exatamente, nunca chego lá, nunca ...sou verdadeiramente aceita pela exigência propositalmente inalcançável. Meu riso incomoda. Meu choro mais ainda. Minha ajuda é pouca. Meu carinho é pena. Meu dengo é cobrança. Minha saudade é prisão. Minha preocupação chatice. Minha insegurança problema meu. Meu amor é demais. Minha agressividade insuportável. Meus elogios causam solidão. Minhas constatações boas matam o amor. As ruins matam o resto todo. Minhas críticas causam coisas terríveis. Minhas palavras cuidadas incomodam. Minhas palavras jogadas, mais ainda. Minhas opiniões sempre se alongam e cansam. Minhas histórias acabam sempre no egocentrismo ou preconceito. Meu sem fim dá logo vontade de encurtar. Minha construção, desconstrói. Meus convites quase nunca agradam. Meus pedidos sempre desagradam. Meus soquinhos de frases são jovens demais. Meu bombardeio de coisas sempre acaba em guerra. Minha paz que viria depois nunca chega, pois eu nunca chego. Minha voz doce assusta. Minha voz brincalhona é ridícula. Minha voz séria alarde. Nenhum pio. Disse pra mim. Falar do que sinto é, na hora, desintegrar com seu olhar. Então fico me perguntando sobre o que deveria dizer, se só sei o que sinto. Devo sentir por personagens de livros, filmes, jornais e ruas? É assim que se diz sem ser o que não importa de verdade? E se for o contrário? Mas pra dizer do contrário, fica sempre no ar, é melhor não dizer. Se digo algo sobre minha vida, só sei falar de mim. Se digo algo sobre a vida dele, coitada de mim, achando que sei alguma coisa da vida. Se falo sobre a vida dos outros, que papo furado é esse? Se falo sobre coisas me sinto mais uma delas. Se provoco, eu que provoque sozinha porque ele não é trouxa de cair. Sobre livros, nunca são os que interessam. Sobre minha reportagem, nem quis ler. Meu trabalho nunca foi e nunca será da mulher dos sonhos. Meus sonhos evito falar, um medo de ser menina. Quieta. É assim que será. Se digo certo, isso logo acaba. Se digo certeiro, acabou. Se digo errado, nunca acaba. Se eu for mulher, mulher é um saco. Se eu for homem, homem só existe ele. Se eu for criança, fale com sua analista. Nenhum pio. Combinei comigo. Falar da gente pode? Pode, desde que, depois, eu tenha estrutura para ver toda uma massa desistente desabando sobre meu sofá pequeno. Nadinha. Não vou falar nada. Sobre dor não toca. Sobre prazer toca pouco. Nada. Porque toda vez que eu pergunto, quase ofende. E se respondo, ofende mais. E se exclamo, minha vontade de viver soterra. E se são três pontinhos, não posso. Se começo preciso terminar. Mas quando termino, ele já não está mais. Se repito, quase explode. Se digo uma, sou boa de ser guardada em algum lugar que nunca vejo. Se não explico, pareço louca. Se explico, sou louca. Quieta. Isso! Você consegue! Se for o que eu penso, eu penso errado. Se for o que eu não penso, errei por não pensar. Se não for nada disso, eu que pensasse antes. Se estou animada, cuidado com a rasteira. Se estou desanimada, não tem mão pra levantar. Nada. Não vou sussurrar. Nem gemer. Nenhum som. Respiração muda. O silêncio absoluto. Olhando pra ele. Lembrando de quando ele me disse que é no silêncio que se sabe a verdade. E a verdade chega como um teto gigante que desaba numa cabecinha de vento. O que eu mais temia. O que eu não queria descobrir. Ela me diz. E o pior é que eu nem posso falar por ela. É tudo mentira.
Tati Bernardi